Na cena em que aparece aquela sombra temerosa do Nosferatu, meu irmão, na época com 5 aninhos, me aparece de repente na sala de TV, pedindo para assistir o filme comigo. Recuperada do susto, que quase pôs a perder minha “noite de horror”, disse que era para ele ficar bem quietinho e que se papai nos ouvisse ele iria se ver comigo. Ele se aconchegou nas almofadas que ficavam no chão e acabou dormindo. Lá para o final do filme, o infeliz me dá um berro e começa a chorar. Teve um pesadelo. Só lembro de ter sentido os passos firmes de papai descendo as escadas e a mão dele pegando no braço: “Já te falei para ir dormir e não ficar vendo esses filmes! Assustou o garoto!”. Resultado: fiquei de castigo duas semanas e quase matei meu irmão.
Sou uma fã incondicional de filmes de terror, sejam eles trash, como “A morte do demônio”, ou mais rebuscados com diálogos inteligentes, como “A Chave Mestra” ou o próprio “Nosferatu”. Não me perguntem o por quê, só sei que me diverte demais. Para mim, quanto mais tenso melhor. Por favor, peço que não me pré-julguem achando que sou louca ou sádica... na verdade sou uma romântica inveterada, uma “menina” que usa cor-de-rosa e salto alto, mas que, diferente da maioria, odeia comédia romântica, como “Um lugar chamado Notting Hill”, ou romances melosos, como “Love Story”. Dessa vez posso sim dizer o por quê: utopia pura.
Quando um homem vai invadir uma coletiva de imprensa e pedir uma atriz em casamento, se os homens de hoje tem vergonha de dizer “eu te amo” entre quatro paredes, quanto mais para uma multidão ouvir? Quando, hoje, um homem aceita ser deserdado só para casar com quem ele ama? Vai viver onde? Só se for debaixo do viaduto do Joá. O problema é que quando assisto a um romance ou a uma comédia romântica (geralmente obrigada!) lembro do quanto seria bom se isso tudo ocorresse na vida real. E como não acontece, acabo me sentindo frustrada, irritada e deprimida.
Na sessão das 22 horas no TeleCine de ontem assisti ao filme “Crepúsculo”, mais por insistência de duas amigas minhas (viciadas na saga!) e por curiosidade do que por qualquer outro motivo. Queria ainda ter a propriedade, após vê-lo, de dizer o porquê de eu não ter gostado. Sem falar, que nesse mesmo dia, à tarde, minha curiosidade foi ainda mais desafiada quando, num evento para o trabalho, recebi uma produtora de TV que tinha na mão não uma pauta, mas sim dois dos livros da já imortal (sem trocadilhos com sua famosa obra) Stephanie Meyer: “Crepúsculo” e “Lua Nova”. Ou seja, o universo conspirava contra a minha obstinação em não assistir a esse romance.
Pensei: o ruim é o gênero, mas há também um lado positivo, tem vampiros. Resultado: estava certíssima, não gostei. Fiquei frustrada, irritada e muito, mas muito deprimida. Como assim: “Você agora é a minha vida!”? O filme começa com o personagem do bonitão da vez, agora eleito o mais sexy do mundo, sentindo o cheiro “delicioso” (agora sim o trocadilho) de um amor que demorou séculos para encontrar. Irritado, a princípio, a agride como uma forma de autodefesa, mas depois se entrega. Sabendo que pode machucar seu amor com um simples beijo, resta aos dois ficar somente no clima de sedução... o longa inteiro!